Formação popular em saúde para mulheres finaliza terceiro ciclo de estudos

Durante a pandemia que tem assolado o mundo e as constantes arboviroses que se proliferam no Brasil, as mulheres tiveram suas vidas não somente viradas ao avesso como foram obrigadas a desenvolver novas estratégias de sobrevivência, de convivência com os agentes de contaminação e a reinventar sua forma de produzir e reproduzir a vida nos diversos territórios. Sabemos que nem sempre a política pública de saúde, o Sistema Único de Saúde (SUS), consegue estar em todos os lugares e atender a todas essas novas demandas. E justamente por isso, a vida das mulheres muda e aumentam o trabalho e os cuidados consigo, com a família e a comunidade.

Foi olhando para essa “nova” realidade que tornou a vida delas mais exigente que o Curso de Formação de Saúde para as Mulheres, projeto desenvolvido entre a Fiocruz Brasília e a Comissão dos Direitos da Mulher e da Secretaria da Mulher da Câmara dos Deputados, discutiu no último ciclo de aulas virtuais o tema da Promoção e Vigilância da Saúde da Mulher. Durante as três aulas, todas em formato virtual, foram discutidos o que é a vigilância em saúde, sua importância e os desafios para as comunidades, as mulheres e o SUS. Também foram apontadas as dúvidas e inquietações das mais de 250 educandas, das 28 turmas espalhadas nas zonas rurais, comunidades ribeirinhas, urbanas e áreas ditas periféricas dos seis estados onde o projeto está sendo desenvolvido. As experiências e estratégias de proteção e cuidados desenvolvidas por elas também são objeto de estudo do projeto.

Foi o caso da educanda Juciane do Nascimento Costa, do Quilombo de Águas Claras, em Salgueiro, sertão pernambucano, ao explicar a importância da valorização do trabalho das agricultoras familiares que produzem de forma agroecológica. “Às vezes a gente esquece da nossa contribuição, esquecemos que somos parte desse processo que planta e colhe alimentos bons e saudáveis. Agora nosso compromisso é o de mostrar para outras mulheres que também produzimos e somos capazes. O diálogo nas nossas aulas tem sido muito importantes para isso”, afimra. A agricultura familiar representa mais de 70% dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros e brasileiras e é a oitava maior produtora de alimentos do planeta. Desses números, as mulheres respondem por aproximadamente 80% da produção.

Nas últimas aulas virtuais, a psicóloga e pesquisadora do Programa de Promoção da Saúde, Ambiente e Trabalho (PSAT) que se tornou apresentadora, Gislei Knierim, também dividiu as falas com a Doutora em Saúde Pública e colaboradora em Saúde e Ambiente da Fiocruz e do Ministério da Saúde, Juliana Villardi, e com a fisioterapeuta e Mestra em Saúde Coletiva, Lorena Albuquerque. Elas trouxeram informações, conceitos e dados sobre o adoecimento, as mortes e as causas estruturais que desafiam as comunidades e o sistema público na promoção e vigilância em saúde.

Juliana Villardi apontou, por exemplo, que as mulheres apresentam maiores proporções de mortes por doenças do aparelho circulatório, cânceres, cardiovasculares, além das complicações (evitáveis) durante a gravidez, parto e puerpério; isso tudo sem contar os registros dos vários tipos de violências a que são submetidas durante toda a vida. Segundo ela, em 2019, a Organização Mundial de Saúde (OMS), informou que a poluição do ar é o maior risco ambiental para a saúde e que todos os anos sete milhões de mortes estão relacionadas com a exposição à poluição do ar. “O que resulta em acidente vascular, doenças cardíacas, câncer de pulmão e doenças respiratórias e as mulheres, junto com as crianças e as pessoas velhas são as mais acometidas. A OMS também explica que, no caso das mulheres, o adoecimento e morte se dá boa parte pelo trabalho em cozinhas com fumaças e n trabalho ao ar livre, com exposição da poluição das indústrias, carros e queimadas etc”, explica.

Lorena Albuquerque apresentou a dimensão da vigilância no dia a dia das pessoas e como tem se dados nos territórios populares. Ela explicou a dimensão da vigilância como observação do vigiar e do conhecer. “A saúde fala da vigilância, mas isso é algo que a gente faz no nosso cotidiano. A gente sabe o que acontece na nossa vida, no nosso território, na nossa casa e a gente observa e conhece. A partir do momento que eu conheço e aparece algo que eu não conheço ou está diferente do meu normal eu consigo identificar de forma mais rápida e agir”, esclarece.

Durante os próximos meses de janeiro até março, as educandas das 28 turmas do Curso Livre de Aperfeiçoamento em Promoção e Vigilância em Saúde, Ambiente e Trabalho: com ênfase na saúde integral das mulheres aprofundarão as atividades presenciais e participarão das Feiras dos Saberes, um momento de socialização das experiências e aprendizados durante o curso.

Confira as cenas dos próximos capítulos com as mulheres mostrando o que e como elas estão produzindo vidas e cuidando de si....

Rosely Arantes

Jornalista, comunicadora e educadora popular; coordenadora do Curso de Mulheres no Estado de PE; mestranda em Saúde Pública, com orientação da professora Mariana Olívia Santana dos Santos, da Fiocruz Pernambuco.