A revolução é feminista!
A frase “a revolução é feminista” é muito mais do que uma “frase de ordem” e está além de ser um substantivo feminino que significa “pessoa simpatizante ou partidária do feminismo”. Ao afirmar que a “revolução é feminista” estamos, acima de tudo, lembrando ao mundo que nenhuma mudança na sociedade pode ser feita sem a participação das mulheres e sem que se mude a estrutura econômica, política e social que efetivamente considera a mulher como um sujeito político e de direitos.
Foi com esse tom contundente que teve início o Curso de Especialização em Direitos Humanos, Participação Social e Promoção da Saúde das Mulheres, da Fiocruz Brasília, no último dia 14 de março, no auditório da instituição. Na mesma linha as pessoas participantes ouviram relatos que mostravam como a ausência de políticas públicas com o recorte de gênero e a ausência do Estado repercutem nos corpos das mulheres. A mística que abriu o evento entoou como várias formas de violência vividas nos corpos de muitas delas, mas que poderia ser qualquer uma das presentes.
Outro choque de realidade, mas não para a maioria das mulheres presentes, foi a discussão promovida pela Doutora em Ciências da Comunicação e pela professora da USP e PUC-SP, Dra. Rosane Borges ao dissertar sobre o Direito à vida: questão de raça e gênero, primeira aula oficial do curso. Ela fez um resgate histórico que emocionou, mas que também estimulou a reflexão sobre a urgência de que esse debate seja amplificado.
Ela explicou a interseccionalidade do racismo e do sexismo e a necessidade dessas categorias serem consideradas como eixos extremos de diferenciação negativa, dos impactos deles na vida da sociedade, das estruturais do Estado frente a eles e da necessidade urgente e contínua de compreensão deles para a se assumir qualquer ação política. Considerar apenas um deles não significa um enfrentamento eficaz e que promova a vida na sociedade do capital.
O curso que acontece calcado na Pedagogia da Alternância, com encontros presenciais mensais e atividades de intervenção nos territórios, inicia a partir das discussões da Determinação Social da Saúde (DSS) e Sociedade e Políticas Públicas para as Mulheres. Nesse momento foi orientada pela Doutora em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFCE), professora Nagyla Maria Galdino Drumond, que discutiu as compreensões de gênero, classe e raça tomando como ponto de partida a Teoria da Reprodução Social, focando a concepção de família como uma instituição estruturada em função do modelo de sociedade burguesa. O tema também foi discutido a partir do feminismo negro com a apresentação de diversas autoras negras
“Eu me sinto em outro mundo!” foi o que afirmou Eliane Barroso, 54, estudante do Curso Livre, idealizadora e coordenadora do Projeto Social Tecerfios e Perita Social Forense voluntária, no Tribunal de Justiça de Goiás. Eliane acredita que sairá mais “nutrida e mais segura porque sei que vou adquirir uma gota desse saber e trazer para minhas vivências com as mulheres com quem faço trabalho social”, declara.
Já estudante na categoria Especialização, Natalia Alves Beto de Souza, 30 anos, psicóloga e servidora pública e Analista de Apoio à Assistência Judiciária da Defensoria Pública do Distrito Federal (DPDF), diz que a especialização surgiu como uma oportunidade para aprender e contribuir tanto com a instituição quanto com outras mulheres dentro da temática dos direitos humanos. Ela destaca que a formação conjunta da especialização com o curso livre para mulheres líderes de movimentos sociais, como uma forma de democratizar o acesso ao conhecimento. “Uma troca de vivências tão diversas entre mulheres impactou em uma visão de mundo mais ampliada sobre a realidade em que vivemos, o que tem sido de uma riqueza inestimável”, afirma.
A próxima etapa de aula que acontecerá de 25 a 27 de abril, iniciando com o Seminário Interdisciplinar e Intersetorial sobre a Saúde da Mulher Negra. Na sequência teremos a continuidade com a continuidade da temática sobre a Determinação Social da Saúde (DSS) e Sociedade e Políticas Públicas para as Mulheres.
Rosely Arantes
Jornalista, Educadora e Comunicadora Popular